São Paulo / SP - terça-feira, 19 de março de 2024

Arte como investimento já não é só para milionários

Arte como investimento já não é só para milionários

Com instabilidade nos mercados financeiros e cenário de juros baixos, a aquisição de obras de arte ganha força entre os não milionários

Dario Zito, dentista

Dario Zito, dentista: o investimento começou como uma brincadeira, em 2006, e hoje ele tem 200 peças de arte

São Paulo - Em alta nos últimos anos, o mercado de arte deixou de ser hobby de milionários e vem despertando o interesse de pessoas que buscam as obras como forma de investimento. De acordo com a Associação Brasileira de Arte Contemporânea, o volume dos negócios nesse segmento cresceu 44% nos últimos dois anos.

O dentista Dario Zito coleciona obras de arte desde 2006, ano em que fez a primeira aquisição, quando estava decorando seu apartamento. "Começou como uma brincadeira. Achava que obra de arte era muito caro, até um amigo me levar a uma galeria." Após algumas visitas, ele comprou uma obra da artista carioca Ana Holck, por 900 reais. Hoje, seu valor aumentou cerca de dez vezes.

Desde então, ele investe em obras de arte. Com mais de 200 peças em sua coleção, Dario diz que algumas valorizaram e outras depreciaram, mas, somando tudo, os investimentos alcançaram o triplo do valor inicial.

Segundo pesquisa do economista Ricardo Ratner Rochman, da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas ( FGV-SP), a tendência para o valor das obras de arte tem sido de alta.

"Nossa pesquisa está captando que cada vez mais as obras de arte são usadas como investimento. Entre outras vantagens, elas oferecem proteção contra a inflação, pois seu preço sobe com o resto da economia", afirma.

Ricardo elaborou um índice com base nas negociações realizadas na Bolsa de Arte, que promove leilões de arte moderna e contemporânea no Rio de Janeiro e em São Paulo, e concluiu que a valorização das obras de arte nos últimos sete anos ultrapassou a do Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores.

A tendência também foi captada pelos números da The ­Finest European Art Foundation (Tefaf), uma das mais importantes feiras internacionais do setor.

Segundo a organização, o preço médio das obras vendidas em galerias duplicou no ano passado. Para Ricardo, essa valorização se dá por dois motivos: o aumento da renda da população nos últimos anos e o cenário econômico de juros baixos e mercado de ações instável, o que diminui as opções de investimento.

"Justamente em razão da crise financeira e da desconfiança com ativos monetários, há uma procura maior pela arte, como forma de se proteger", diz o economista.

Conhecer para lucrar

Dario Zito conta que, no início, adquiria grande quantidade de obras, mesmo com seu orçamento limitado. Conforme o interesse crescia, ele procurou aumentar seus conhecimentos sobre o tema visitando exposições, galerias e dialogando com pessoas do ramo. Ao frequentar o meio, aguçou seu olhar.

"Atualmente, estudo melhor e compro apenas uma obra grande a cada seis meses."Alguns investimentos acertados de Dario foram obras do paulista Nino Cais, valorizadas após sua participação na Bienal de 2012, e as do artista pernambucano Paulo Bruscky­, que chamaram a atenção de museus.

"Quem ganha dinheiro com a própria coleção é quem gosta, entende, frequenta, afinou o olhar e criou uma inteligência para selecionar melhor", diz Thiago Gomide, diretor da Bolsa de Arte.

No caso da arte contemporânea, frequentar galerias — muitas voltadas para autores jovens — permite familiarizar-se com os artistas. "Esse é um interesse que dá certo trabalho e, em uma galeria, dá para ter contato com uma parte mais ampla da obra do artista", afirma Eliana Finkelstein, sócia e diretora da Galeria Vermelho.

Riscos

Um investimento em obras de arte, assim como no mercado financeiro, envolve riscos. O perigo de comprar “gato por lebre” é alto para quem não acompanha o setor. A reputação do vendedor é um critério fundamental. "Quando for comprar, é preciso pedir certificado, verificar a procedência", diz Dario.

Ricardo Rochman explica que, para o investidor que quer segurança, é recomendável adquirir obras de artistas estabelecidos. "Com um artista reconhecido, pelo menos você consegue se proteger da inflação", afirma. Por outro lado, essas obras custam mais caro, e o potencial de valorização é menor.

"O artista jovem é como se fosse uma empresa nova, fazendo seu IPO (oferta pública inicial, na tradução do inglês), cujo histórico de operação você não conhece. O risco é maior, mas a possibilidade de valorizar também."

Como escolher as obras certas

De acordo com quem entende desse filão, com 1.500 reais é possível começar a investir. Mas, para encontrar um artista com tendência a valorizar e ganhar dinheiro com sua coleção particular, é preciso prestar atenção em alguns detalhes

Leia sobre o assunto e converse com quem tem experiência.

"O principal é aprender a separar o que é obra de arte do que é artesanato", diz Dario Zito. 

Familiarize-se com o meio.

"Meu conselho é bater perna. Ver o que está acontecendo em museus, galerias, centros culturais, internet", afirma Eliana Finkelstein, da Galeria Vermelho.

Invista no longo prazo.

"Quando se compra em galeria, é um investimento para daqui a cinco, dez anos. Antes disso, é difícil valorizar significativamente", diz Lucas Cimino, da Zipper Galeria.

Se o objetivo é revender futuramente, na hora de escolher uma obra considere detalhes como o formato e a cor predominante. 
"Pintura vende mais facilmente que fotografia e escultura", afirma Thiago Gomide, diretor da Bolsa de Arte. "Vermelho também tem mais procura, quando comparado a outras cores."

Reportagem: Felipe Peroni

Fonte: Você S/A

 http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/edicoes/182/noticias/arte-como-investimento